sexta-feira, 9 de março de 2012

segunda-feira, 5 de março de 2012

A Casa dos Sonhos

Me sento no sofá da sala e começo a escrever. Esse deve ser o maior presente que esse lugar pode receber. Lembra da primeira vez que chegamos extremamente embriagados e dormimos sentados; só na manhã seguinte percebemos e começamos a reconstruir as memórias um do outro, grande dia.

A primeira vez que entramos aqui foi épico; para mim era finalmente conhecer o gosto da liberdade, sem nenhum resquício de família e tradição. Era um novo parágrafo sendo escrito ao lado do meu grande companheiro. Nós podíamos ter dado o nome de “1° Igreja Cretina de Florianópolis”, mas não iria colar. As maiores cretinices da minha vida aconteceram naquele lugar. Quando perdi a chave do meu quarto e tive de usar o seu, sem me dar conta de que, justamente naquele dia, você dormiria em casa. Me desculpe. As incontáveis vezes que cheguei do trabalho e encontrei você e sua namorada se agarrando no sofá ou quando eu estava com uma gata selvagem e você aparecia só de cueca pra buscar mais uma cerveja.

Complicado escolher qual foi à melhor festa. Eu sempre ficava chocado de quantas pessoas eram capazes de caber naquele lugar. A primeira festa foi, de certo modo, um desastre, sem luz, pouca cerveja e aquele cara chato que não parava de falar de direito e dever. Existiram muitas outras melhores, mas a maioria delas eu não me lembro direito. Noites regadas a Sueca e ligações dos vizinhos para diminuirmos o barulho, essa era nossa vibe. A última festa foi lendária. Um misto de melancolia e farra, com todas as pessoas que nós amávamos e aprendemos a amar.

E as incontáveis noites filosóficas regadas a um bom vinho. Resolvíamos problemas universais; curávamos doenças e certa vez desenvolvemos um plano de gestão urbana perfeito. Claro que tudo ou terminava na tabela do Brasileirão ou em algum jogo de vídeo-game. Escrevemos sonetos, odes e você me ajudou muito a destravar uma parte do meu livro. Seu conto de pedido de casamento? Eu o vi nascer diante dos meus olhos.

Nem tudo foi alegria, claro. Alguns dias parecia que tudo iria desabar ao nosso redor, nosso intelecto, nossos amores, nossa família, nosso coração. Todos os caminhos estavam fechados e o que restava eram lágrimas e o ombro amigo de um para o outro. Foram dias complicados, mas foram dias que nos fizeram crescer muito.

Agora estou aqui, sentado nos últimos instantes meus aqui dentro. Assim que guardar a caneta e o papel, vou devolver as chaves e passar adiante o que durante alguns anos foi nosso templo. Fico comigo pensando: você se lembra disso tudo? Eu acho que não. Por que nada disso aconteceu, e nem vai.