segunda-feira, 2 de março de 2015

Vermelho

Suas rendas capturaram meus olhos
E amarrado nessas redes me perdi na curva dos seus seios
Que são como colinas que guardam uma caverna
Nela dorme um tesouro sem fim: seu coração 

Me livrei dessa armadilha só para cair na próxima 
Belo e longo, dominando a paisagem do seu rosto
Um sorriso claro como as nuvens de primavera
Emoldurado pelos lábios carmesim da paixão 

Se me provocas poesia, eu escrevo 
E caminho meus dedos pelos versos
Como desejo caminhar pelo seu corpo

Se me provoca os sonhos, eu durmo
E lá dentro não há limites dentro dos seus olhos
Nem dentro de ti

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Cigana

Te veste mulher e dança, gira sem parar
Enfeita o rosto com um sorriso e o peito com alegria
Brilha os olhos num pôr do sol 
Que banha a lagoa de nossas vidas

Roda seu vestido de flores e encanta o mundo
Azuis como o céu de primavera
Aplaude a música em tercina
E deixa seu canto encher o dia

Balança tua pulseira pra nos jogar nos sonhos
Deixa seus brincos brincarem como crianças
E de pés descalços caminhe sobre a terra

Se um dia ainda tiver que chorar
Que as lágrimas sejam todas de alegria
Para regar os arbustos que enfeitam nosso caminho.


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Que Queres de Mim, Pequeno Poeta?

Olhei para o Sol, gordo e laranja em sua caminhada para Oeste.
Tomei coragem e disse:
- Sol, ó Sol, tu podes me ajudar?
Ela interrompeu seu passo, com sua voz imponente virou-se e indagou:
- Que queres de mim, pequeno poeta?
- É verdade, que todos os dias tu caminhas para Oeste para seu repouso.
- A Oeste, sempre a Oeste até pelo leste renascer.
- Então, quando voltares amanhã, podes me trazer algo?
- Diga, que queres de mim, pequeno poeta?
- Há no oeste uma menina linda: pele branca salpicada de efélides; cabelos cor d'ouro como você ao meio-dia. E tem os olhos. Ah que lindos olhos, azuis e profundos como o oceano.
- E queres que eu a traga?
- Se assim puderes.
- Eu sou senhor dos dias, mestre das estações. Eu governo os planetas e suas rotas, mas não posso reinar sobre a vontade de sua menina.
Ao ouvir aquilo, confesso que me entristeci. E ele prosseguiu:
- Se quiseres digo à ela que sonhas, que esperas e que desejas. Digo até que escreves sobre ela, mas quanto a voltar só ela pode decidir.
E prosseguiu com sua jornada: "a Oeste, a Oeste até no leste renascer." Calei-me e deixei que a noite caísse sobre mim. Foi quando uma tênue luz prata me tocou. Virei-me para o céu e lá estava ela: gigantesca, pura e branca. Era a Lua.
Virei-me com pressa e gritei:
- Lua, ó Lua!
Com sua voz suave e doce ela disse:
- Que queres de mim pequeno poeta?

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A Casa

As janelas são grandes, elas são amplas na verdade,
Castanho-escuras como a imbunha virgem
A luz entra sem problema, espalhando-se por todo canto
Mas nada passa. Tudo continua fechado.

Há muito espaço aqui, para estantes, sofás e poltronas.
Cabem mesas, cadeiras e armários. toda sorte de móveis
Tudo, em cada detalhe, é decorado, bonito e harmonioso
Mas não há nada aqui, nem ninguém

As portas são duas grandes folhas de madeira maciça 
Maçanetas de bronze adornam a estrutura, mas não se movem.
Você pode bater, chamar, querer, conversar
Ela não se abre. Ela não quer abrir.

De que vale tanta beleza para ninguém?
Tanto espaço, tanta pompa e nem uma voz para se ouvir.
Talvez as chaves estejam embaixo do tapete, para quem procurar
Ou próximo a um copo de cerveja, numa mesa de bar.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Sou Mulher

Dos cabelos de Sansão vinha sua força 
Disso não preciso, pois minha for vem de quem sou
Sou mulher,
O sorriso fino que emoldura o meu rosto
Não dependem do seus suposto bom gosto, só de quem sou
Sou mulher.
Faço cara de tédio quando ouço você dizer sobre "meu lugar"
Quando sou eu quem decido onde ele é. 
Pois sou mulher.
E se deixarmos o sol para trás 
Verás que nossas sombras são iguais, sou tão humana quanto tu.
Mas sou mulher.
E se meu corpo te convida vem, não te demores a se afogar.
E se digo "não!", parta, pois não é em ti que quero ficar.
Faço do meu ventre templo e dele sairá o Messias que eu quiser.
Pois dele sou Deusa. E em tudo sou o que quiser.
Sim, eu sou mulher.