quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Bodas de Papelão

Eu sei bem que esse amor de quinta não vai longe
Eu estou sempre alheio e você sempre muito ocupada
Tu passas pelo mundo como uma corredora e eu como um monge
Mas isso tudo me lembra uma canção que já foi cantada

É bom lembrar o encontro inesperado marcado sobre o tédio
A aula que foi morta sem nenhuma discrição
O sorriso da criança que pra mim foi um remédio
E a avenida que era pequena pra toda nossa ação

Destino incerto, ônibus errado e falta da passagem
Conceitos refeitos, idéias transformadas e mesma mochila da sexta série
Mudança de planos, novos caminhos e um empréstimo; que sacanagem

O lábio marcado, o sorriso no rosto e a surpresa do fato
O desejo de estar, o desejo de voar, a liberdade pra sonhar
Mas não vamos falar disso, é nosso aniversário, não quero ser chato

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A Porta Esta Aberta. Feche Por Favor

A casa não estava suja ou bagunçada, tinha uma ou duas duvidas para resolver, algumas tristezas guardadas e muita, mais muita poesia. Eles estavam sentados a mesa; do lado dele uma caneca com café e bastante açúcar (como ele gosta), talvez ele desejasse um pouco de conhaque que lhe desse coragem; do lado dela? Bem, não sei dizer, não a conheci o suficiente para saber dizer o que ela gosta de beber. Como a casa era dele, ele deveria começar; como sempre hesitou tentando escolher as melhores palavras, mas começou:

- Você vai ter que ir embora.

Não sei o que ela respondeu.

- Chega uma hora que as coisas têm que tomar seu lugar de verdade.

A reação dela aqui? Fica como incógnita para nós.

- Eu não te conheço e mesmo assim me apaixonei seriamente por você. Mas como posso deixar uma estranha viver aqui dentro?

Talvez aqui coubesse o silêncio e a fuga do olhar.

- Que droga! É isso que eu não quero. Quero que você fale quero que reaja e me mostre o que se passa com você. Queria nem que fosse um tapa seu na minha cara, pelo menos assim eu sentiria você me tocar.

Ela ficaria uma pouco surpresa, eu acho, mas não sei descrever como.

- Seu silêncio e distância já me confundiram demais. Não culpe o tempo (ou a falta dele), não culpe os compromissos, não culpe a mudança. Você simplesmente não fez nada.

Tendo dito isso deu um belo gole no café, sentiu-se mais leve, mais tranqüilo. Olhou-a diretamente nos olhos e aguardou a resposta. Bem meus caros, não posso escreve como termina essa história... Ainda não.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Bom Dia Anjo

E era assim, não podia ser diferente. A primeira vez que vi você dormindo comecei a me questionar sobre a existência dos anjos. Você ainda estava nua e no seu corpo ainda restava o calor do nosso amor. Seus cabelos caiam delicadamente sobre seu rosto ocultando parte da sua beleza. Mas eu ainda conseguia ver, por entre os fios de sedas que eram seu véu de glória, seus lábios rosados e doces. Via seu nariz que parecia ter sido esculpido durante eras, pelo fluxo bendito de uma cachoeira de águas cristalinas. Seus olhos fechados não eram menos encantadores; que sonho estariam eles contemplando agora? Eu não sabia, mas desejava ardentemente fazer parte deles.

O lençol de cetim num tom claro (que você insiste em chamar de pérola, mas que para mim sempre será bege) cobria seus quadris, sem esconder suas formas acentuadas. Seus pés pareciam duas peças de porcelana, delicados, finos; mas como eram ligeiros na hora de correr de mim ou de subir numa arvore como uma moleca. Suas pernas eram as colunas de sustentação do tempo maravilhoso que era seu corpo, eram firmes e fortes, como suas opiniões nas nossas discussões. Suas costas eram a tabula rasa da minha felicidade, era possível erguer um reino sem fim sobre elas.

Deitei-me ao seu lado e Afrodite com delicadeza te repousou sob meus braços. Naquele instante, com suas vestes celestiais que pareciam encher todo o quarto, a deusa me disse:

- Que te importa no mundo?

- Ela.

- Dou-te terras que seus olhos nunca serão capazes de ver por inteiro. Que te importa no mundo?

- Ela, pois de nada me vale ter terras a perder de vista, se minhas vistas não puderem se perder nos olhos da minha amada

- Dou-te poder que nunca conhecerás o limite. Que te importa no mundo?

- Ela, porque não me importa ter poder que minha razão não conhecerá o limite, se está circunscrita no sorriso dela toda força que preciso para me levantar e amar.

- Dou-te a palavra absoluta, certeira e inefável; faço de ti artesão supremo das letras. Que te importa no mundo?

- Ela, pois não sei se entendes minha deusa, de nada vale ter uma palavra ideal ou todas elas, se não for para fazê-la sorrir.

E tendo dito isso a deusa evaporou-se diante de mim como a fumaça de um incenso doce, porém ciumento. Olhei e você ainda estava em meus braços; suas mãos repousaram sobre meu peito e eu podia sentir meu coração bater através delas. Seus braços tão longos quanto sua paciência comigo pareciam me proteger de qualquer mal do mundo, mesmo com você dormindo. Seus seios encostaram no meu corpo e eu pude sentir a maciez deles mais uma vez. Como eles estavam belos, como duas colinas férteis e inexploradas. Comecei a sentir o leve perfume que brotava da raiz de seus cabelos, fechei os olhos deixei meus sentidos serem tomados por você.

Despertei.

Um peso sem mais fim caiu sobre meu coração quando me vi sozinho sobre uma cama bagunçada. Meus braços vazios, a ausência da sua pele e do seu calor, era como se pudesse ouvir ao longe o riso do amor ciumento de Afrodite. Mas ao levantar meus olhos lá estava você, meu anjo transformado em mulher. Estava sentada vigiando meu sono, como fez nossa mãe Eva antes de Adão despertar do sono que Deus o colocara, para que ela pudesse existir. Seus olhos eram olhos vividos de paz, e despejavam sobre mim os sonhos que guardaram por toda a noite, e sim, eu era a tema da maioria deles.

O cetim agora te cobria toda, mas ainda podia sentir seu corpo me chamar de longe. Se anjos realmente existem ou não, não sei; mas se sim, com certeza você é um deles.


Te olhei, sorri e só pude dizer:

- Bom dia Anjo.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Futuro Que Eu Vejo; No Presente Que Eu Sinto

Sentou na escrivaninha e olhou fixamente para a folha branca diante de si. Seu olhar penetrou tão fundo no papel que ele pode ver as palavras brotando como se dessem vida a si mesmas. Fechou os olhos suavemente e sentiu seu corpo e mente convergir para o texto, ligou o velho rádio já bem surrado que tocava uma canção que sempre repetia: “deixa ser.” Bebeu um bom gole do seu café, preparado como ele: forte e doce.

Deixou-se levar pela melodia e pelo caminhar da sua caneta sobre o papel. Lembrou-se de uma história que ha muito tempo ocupava sua mente, ele sabia que em algum lugar (ou em algum tempo) ela foi real. Começou a escrever sobre a trajetória de um jovem casal, vivendo encontros e desencontros até alcançar a tão sonhada felicidades.

Ele era assim homem sensível, sábio, realista e leve. A sua leveza beirava a irresponsabilidade; dizia ela:

- Bonito, desde sempre o chamara assim, você levou o ultimo manuscrito pra editora?

- Xiii! E batia com a mão aberta na testa. Me esqueci, fiquei jogando vídeo-game com a Clarice, ma seu levo amanhã.

- Amanhã é o ultima dia do prazo.

- Relaxa amor.

Ela ficava louca, esbravejava pra si mesma, sofria, mas sabia que no final ele sempre conseguia dar um jeito em tudo. Essa era a mágica dele. O tempo formou nele uma força inacreditável para quem não compartilha dela; não havia como crer, mas depois que ele levantou-se e jurou a si mesmo lutar por seus sonhos ele só cresceu. Suas palavras, seus roteiros e até uma ou duas canções que fez com velhos, e eternos, amigos eram de uma beleza e poder maravilhosos. E foi sobre essas palavras que ele construiu prestigio e reconhecimento.

Ela não ficava atrás em talento, conseguia envolver com as palavras como se elas fossem parte do nosso corpo. Ela era uma mãe, não por cuidar ou qualquer sentimento de super-proteção, mas ela tinha o dom de nos fazer sentir em casa, sempre. Ela amava, beijava e abraçava de um jeito que constrangia de amor. Quando ele expressava a saudade e abria o coração era capaz de conquistar metade de um império, se sorrisse o conquistava todo. E por mais que o relógio de marca, que a ensinou a viver o frenesi de São Paulo, tentasse sufocá-la pelo pulso, ela sabia tirá-lo e alisar o rosto com a barba por fazer do seu bonito, por longos e longos minutos.

Nem tudo começou assim tão belo. Ela não sabia onde era seu lugar no mundo, mas sentia com profunda dor que estava no lugar errado. Era como se as mãos de um futuro promissor estivessem sufocando sua vida. Tinha um que de amor, um que de proteção, mas não era aquele o lugar. Ele estava lá, sentindo ainda resquícios de um amor que não seria correspondido, não mais. Ele estava lá, lugar no mundo? Sim ele pensava, mas era uma questão que ainda não pesava tanto, então seguia os dias bebendo, escrevendo e fazendo muita vida.

Eles foram se ajudando aos poucos, sem pretensões. Eram como dois estranhos, encontrando-se numa esquina, num lugar comum. E foi desse lugar comum que passaram a ser um o lugar um do outro. Com o tempo não havia mais como negar: eram um do outro por completo. Ele beijava outros lábios, fazia viagens tão loucas sem sair do lugar e deixava-se levar pelo doce fel da cevada e seus variantes; mas quando piscava o olho por um segundo, todas as meninas da festa tornavam-se a única menina que ele gostaria que existisse. Ela tinha mil amantes aos seus pés. O moço recatado de boa família, o melhor amigo da mãe dela; o bom moço descolado, romântico e atencioso; a talentoso pop das noitadas de São Paulo, mas senhoras e senhores, a verdade dorme embaixo do nosso travesseiro e todas as noites depois de uma jornada trop fatigue, ela lembrava-se dele.

Ela foi tema de amor mil e uma vezes sob um letreiro velho; ele fez nascer milhões de flores num jardim de primavera. Certo dia, enquanto festejavam mais um reencontro (foi complicado o tempo que moraram tão longe), um amigo lhes disse: “Eu sei que você é paranóica e você um irresponsável, mas mesmo assim eu amo muito vocês.” Ele disse, eles ouviram, mas talvez não tenham entendido o quanto.

Passaram-se anos, uns mais fáceis do que outros. Saudades, dores, apertos financeiros, mas o mais belo que venceram tudo com um sorriso no rosto.

Abriu os olhos. O papel estava repleto de palavras que falavam de verdades possíveis e, especialmente naquele dia, reais. Organizou as folhas, desligou o rádio e foi deitar-se, porém mais uma vez ele esqueceu a caneca sobre a mesa.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sobre o Sono e as Pessoas que Ainda não São Más

Encontros e desencontros; eufemismos e feminismos; encantos e desencantos; aquilo que entra e aquilo que sai. Existem milhões de coisas por serem escritas, acredito que todas elas vão encontrar seu lugar nas palavras, mas depois de ver a fonte tanto tempo entupida resolvi falar de duas numa história só.

Não era sempre que ele era dado às coisas da religião, mas lembrou-se de um termo que escutou na missa uma vez: “A Coroa da criação”. O sacerdote usou como exemplo um sundae e sua cereja, foi assim que ela ficou gravada na sua mente. Ele bem sabia que rótulos são para geléias, mas a primeira exclamação que surgiu na sua mente foi: “que loiraça gata!” Isso não se faz, mas foi mais rápido do pode se controlar. Ela estava vestida para o crime: roupas justas e escuras como uma estrada perigosamente desejável; um rosto fatal e mortífero, como uma fera caçadora em busca de presas indefesas.

Começaram as brincadeiras, os trocadilhos e ele pensou: “vamos ver o quão feroz é essa fera.” A batalha começou e ele criou regras tão claras que seria impossível ser derrotado, mas na ânsia de domar a fera flechou o próprio pé. Nem mesmo Mnemosine conseguiu clarear-lhe todas as lembranças, deve ter sido por conta dos juramentos feitos em nome dos olimpianos, mas ele tem claro e vivo em sua mente o impacto maravilhoso que foi o encontro de seus corpos. As mãos, os toques, os sorrisos; era divino como a própria figura dela representava ser. E falando em deuses lá veio ele sob a forma de uma taça bem servida de álcool. A ultima lembrança antes de Morfeu arrancar sua alma de dentro do corpo com suas mãos fortes, foi da suave doçura daqueles lábios.

Escuro.

A força de Morfeu é indizível em palavras humanas, sem saber por que, quando e de que modo, seu corpo foi entregue a um sono tão profundo quanto uma reflexão de Vigotski. Num segundo de distração da divindade ele levantou-se em busca de seu ipê roxo. Ao despertar viu a velha amiga que tanto ama; cumprimentou-a e viu também o, quiçá, novo amigo, mas notou que a sala, além de bem mais bagunçada do que antes, estava um pouco sem brilho, vazia de beleza, ela não estava lá, mas Morfeu estava e o aprisionou novamente.

As brincadeiras de Morfeu nunca duram para sempre, a divindade se foi e nosso pobre amigo ficou com o peso da culpa, da vergonha e da graça. Os bons amigos sempre nos tiram o peso da melhor maneira possível:

- Você é burro.

- Muito burro.

- Cara como você pode fazer isso?

- Eu sou burro.

Rir da situação foi quase que involuntário. Quando ela retornou a casa, ainda mais bela do que quando havia partido, ele realmente percebeu que tudo seria uma boa lembrança (ou um texto). Ainda brincou e tentou ser legal, mas restava rir de si mesmo e tentar dormir.

As manhãs nos trazem sempre bons sons e boas imagens. Depois de despertar ao som da mais nobre Black music norte-americana, foram os pássaros que prosseguiram com as melodias. Levantou-se e ela estava lá, quase mais bela do que na noite anterior. A beleza das coisas simples e cotidianas sempre foram à ele mais encantadoras do que tudo. Vestia um pijama rosa num tom tão familiar quanto podia ser. É como se ela fosse capaz de passar o dia vestida com ele.

- Bom dia. Foi o bom dia mais constrangedor de sua vida. A sua alma galante gritava sempre, que uma dama nunca poderia ser abandonada daquele jeito.

- Bom dia

- Estou indo tomar um café, quer alguma coisa pra comer? A única coisa que fazia sentido para ele era ser cortes e gentil, mal sabia que para ela estava tudo bem e normal.

- Claro, algo de presunto e queijo e um todinho.

Foi ali num sofá muito gasto que a “gata arrasa quarteirão” tornou-se um moça com um brilho só dela, como todos nós. Com todos despertos seguiram-se as grandes questões do dia: destino do almoço, da tarde, as trocas de passagens, horários de ônibus; a grande sina dele contra os “psicoloucos” se deve ao fato dele mesmo ter muito de ler e reler as pessoas.

Aqueles olhos lindos de pupilas dilatas, rajado de verde-mel era de uma sagacidade admirável (ele sempre amara mais as pessoas ruins que as boas), mas boiava numa candura muito linda. Ela destilava cortes e pequenas doses de ironia, mas no instante seguinte se deixava atingir por se saber “ajeitadinha”.

Um ipê roxo pode ser amarelo? Alguns responderiam com um simples e não reflexivo “não”, mas a grande verdade é que ela era um lindo ipê roxo e amarelo. Ela tinha sim tudo para ser uma pessoa altiva, cruel e esnobe, mas o problema era a beleza do sorriso dela; a delicadeza das suas roupas e chaveiros rosa; como alguém que imita com tanta graça o andar de um passarinho pode ser má?

Se um charuto pode ser só um charuto, talvez um titulo não queira dizer nada. Quiçá a falha e os contratempos tenham sido os grandes motores do encanto. Se o que acontece aqui, fica aqui, você deveria ficar.

domingo, 7 de novembro de 2010

Semiton

Nossa vida é toda dividida em semitons e é assim que eu quero pra sempre.
Não importo em te arrancar do seu conforto na hora que bem me aprouver
Passo-te a mão onde quero e te faço falar do jeito que eu quero
E se não for assim te aperto e estico sem dó, até me obedecer

E não venhas reclamar, porque te levo até a mais lugares do que deverias ir
(por mais que não deixe outros te encostarem as mãos, mas isso é escolha minha)
Levei-te a praia várias vezes e já fugisse para lá sem minha ordem uma vez
Não vou te castigar, pois sei que és obediente

Mas confesso que só você consegue dizer exatamente o que desejo ouvir
Quando sua voz vem vibrando pelo meu corpo me sinto incendiar
E se me dizes algo novo, assim como de surpresa
Percebo que há um universo a ser descoberto em você

Ah! Vai, me desculpa os dias em que eu te jogo na cama viro e durmo
E finjo que o dia com você foi maravilhoso
Mesmo você me dando presentes tão bonitos que vou mostrar para todos
E que nem sempre eu vou saber cuidar

Roda Viva ( ou Uma Caneca Sobre a Mesa)

Eu vos leio com os olhos que me destes
Leio gestos, palavras, histórias e sentimentos
Leio vosso sorriso, vosso olhar e os gestos despretensiosos
E depois de ler sinto minhas mãos plenamente carregadas

Eu escrevo. Palavras que são em parte minhas e em parte vossa
Escrevo de mundos possíveis e desejáveis a todos nós
E alguns outros que ninguém queria ter, viver ou olhar
Escrevo da minha alma, que é sempre tocada pela vossa

E vocês lêem. Não é algo distante de vosso próprio corpo
Não são textos que contam a história de terceiros
Mas espelhos que revelam o pouco de vós que há em mim
Vocês lêem o que vossas próprias mãos escreveram pelas minhas

E assim vos me reescreveis, com a sobra de vossas palavras ditas por mim
Dão-me novos olhos e novas mãos para que eu cumpra minha tarefa
De reescrevê-los, para que vocês possam ler-se
Diante do espelho das minhas palavras.

sábado, 6 de novembro de 2010

A Dama dos Olhos Azuis

Se me restasse apenas um poema para falar sobre você
Que palavras eu poderia usar para expressar a verdade?
Que detalhes ou fatos eu usaria para descrever você
De um modo que o mundo viesse a te amar?

Não vou negar que seus olhos azuis são os olhos azuis mais belos que já vi
São profundos e muitas vezes parecem mudar de cor
Posso falar dos seus negros cabelos que me cobrem como o véu da noite
A forma com que eles conseguem ficar sempre perfeitos me fascina

Posso falar também do quando você é chata e fresca
Do seu olhar altivo como se o mundo estivesse abaixo de você
Do desprezo com que você me trata só porque não te agrado tanto
Mas não sei se isso tudo é quem você realmente é

Mas quero falar do jeito que você me fisga pelas vísceras quando faz piada
Quando tira fotos engraçadas como se fosse uma criança
Sei bem que é uma mulher que faz moda e faz o mundo
Mas você pode, um dia ou outro, ser leve como eu

É pra você, minha dama dos olhos azuis, que eu escrevi
Só pra te deixar sem entender direito o que significa
Sorria para o mundo, e ele vai sorrir de volta
Sorria para mim porque eu “sórrio” pra você.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Toquei Um Blues Pra Você Dançar

Sei que a noite já esta bem escura, mas eu puxei a guitarra pra perto de mim e acendi um cigarro. Não, eu não me importo de tocar e fumar; não faz diferença ter nicotina entre os dedos se aquele acorde dissonante que me faz lembrar você sair perfeito. Deixei as partituras no carro e não me lembrei de nenhuma peça do Bach... Bah! Deve ser o álcool.

Quando olho seu corpo deitado no chão, me lembrei daquela noite que saímos correndo no píer e você quebrou nossa ultima garrafa de tequila, o que era para ser trágico tornou-se cômico quando você a olhou toda espatifada no chão e disse: “tadinha!” Rimos o suficiente para ter que voltar pra casa de taxi. Vendo o seu collant preto, tão justo e reto no seu corpo, lembro do primeiro dia que te peguei na dança e vi você voar como um pássaro livre. Naquele momento eu descobri o que realmente te fazia feliz.

Então eu combino uma escala com a outra, encaixo um acorde no outro e percebo um leve sorriso nascer no canto dos seus lábios enquanto você ainda finge que dorme. O ritmo vai crescendo e eu sei bem que seu corpo fala bem mais alto que você. Vendo você sentada e olhando pra mim, lembro do dia que eu quase morri de gripe (sim são meus dramas) e nem conseguia tocar; você pegou o violão e tocou a única música que sabia inteira. Naquela hora me lembrei de uma frase do Vinicius de Moraes: “amar, porque não existe nada melhor para saúde do que um amor correspondido.”

Você é dança meu amor; o resto? É puro apêndice. Seus giros, seus saltos, a alegria do seu corpo ao entregar-se para dança como uma oferta divina. Suas pernas como o vento levam e elevam seu corpo a um nível incrivelmente profundo; seus braços como as asas de um falcão me revelam que você sabe voar, com maestria. Suas formas, seus contornos revelam graça e precisão.

Enquanto eu busquei em escalas e acordes; madeira, metal e cabos a expressão dos meus sentimentos, você esculpiu o seu próprio corpo para que fosse seu instrumento. Suas mãos e pés; seu pescoço e sua cintura; todos os seus membros são como uma orquestra totalmente dedicada ao seu grande maestro:o coração.

Agora vem você com seu corpo esguio e delicado me oferecendo uma taça cheia do meu vinho predileto. E eu me entrego a taça; me entrego em seus braços e sou rendido pelo nosso amor.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Ode do Amor a Simplicidade

Não tem sapatos bem polidos e nem um cetro dourado na mão
Não traz consigo tesouros ou o poder sobre outros reinos
Fez pouco caso do protocolo e só faltou com a educação
Trazia os pés quase descalços como uma camponesa de poucos feitos

Suas vestes são pouco nobres e seu passar é quase indigno
Canta canções estranhas e chora, parece bastante sentimental
Não carrega nobreza e sua coroa é um pedaço de elástico fino
Seria uma desfiguração nos padrões reais do sistema feudal

Mas quem disse que eu ligo para isso tudo? Para essas convenções?
Quem pode impor ao Amor qualquer tipo de regra ou modo de ser?
Aprendi que o único caminho verdadeiro é o das emoções
E que maior bem do que a paixão reino nenhum pode ter

Ela traz em si um sorriso belo que poucas sabem carregar
Tem mãos delicadas e um jeito de olhar que nos desarma
Tem uma risada que enche de alegria o ar
E abraça nos entregando de volta toda a calma

É o desdém que tem com o mundo que me mostra o que ela quer
É o modo como ela sabe viver a eternidade de cada minuto que me encanta
É o espelho pequeno que me diz: “assim como você é”
É o desejo de ver o mar e sobre as ondas convidá-la para uma dança.

Ela senta no chão, abraça apertado, canta bonito e ouve poesia
Bagunça minha vida, tira meu sono e enche meu papel de canção
Ela come devagar, caminha sem pressa e faz pão caseiro (como minha vó fazia)
É franca em palavras, delicada em ações e forte em sua decisão

Ela é simples, como simples é o amor
Ela é simples, e descobriu que seu olhar, em mim, torna-a fatal
Ela é simples, e carrega isso consigo aonde for
Ela é simples, tão simples porque é real.

Um Novo Conto de Fadas

O príncipe estava feliz finalmente chegara o dia de conhecer a sua tão amada princesa. Ele escolheu o melhor manto, um bem escarlate com detalhes em branco. Mandou polir com maestria o cetro e a coroa. O anel real em sua mão parecia ainda maior e brilhante. Sentou-se quase soberano sobre seu trono no salão real; toda a corte o observava, viam aquele que em breve se tornaria o rei, o que não sabiam é que por dentro ele ainda era um menino que sonhara se apaixonar.

O Salão estava em ansiedade. Quem seria a nova princesa? De que reino viria? Era alta? Magra? Simpática? Teria irmãos ou irmãs? O ritual era simples: a princesa entraria apresentando-se ao pretendente e depois os dois iriam ceiar diante da corte. A mesa do casal estava repleta de iguarias que nem os mais abastados do reino conheciam: carne de caça do norte do reino; romãs colhidas por virgens ao sul (na fronteira com os reinos negros); taças de ouro trazidas do oriente, tão bem trabalhadas que pareciam ter vida própria; a mesas e as cadeiras eram tão perfeitas como se já tivessem nascido daquele jeito.

Subitamente as portas do salão se abriram e as trombetas soaram anunciando a chegada da princesa. Primeiro seu Arauto entrou; ele era tão belo quanto o próprio príncipe e vestia vestes nobres que fizeram todos especularem sobre quão grande seria a beleza da princesa, visto que seu servo era tão apresentável. O Arauto aproximou-se do trono e curvou-se, estendeu uma pequena caixa ao príncipe, era um humilde presente: um pequeno espelho que trazia gravado em sua moldura, “assim como você é”. Levantou-se e, indicando a porta, anunciou a entrada da princesa.

A entrada dela deixou a todos chocados. O Arauto olhou em direção a ela e sorriu; a corte toda expeliu um “oh!”; o príncipe endireitou-se na cadeira e esfregou os olhos para ter certeza de que o que via era real. O protocolo dizia que a princesa entraria com as vestes oficiais do reino, o cetro e a coroa sobre a cabeça e o cetro em mãos. Deveria vestir cores claras e calçar sapados de salto claros também. Ajoelhar-se-ia diante do príncipe, diria seu nome e quando ele estendesse a mão (se a aceitasse) ela se levantaria e sentaria ao lado do amado, mas as coisas foram um pouco diferentes.

No lugar de sapatos de salto com cores claras ela trazia nos pés um par de havaianas florais, branco com rosa, suas preferidas. Suas unhas estavam pintadas de renda à francesinha. O longo vestido deu lugar a uma calça jeans bem surrada (com a barra um pouco gasta) e um moletom azul-marinho da GAP que era um pouco largo para ela, mas que a fazia sentir-se totalmente à vontade, o capuz atirado para trás com seus cordões jogados para frente. Não mão não trazia um cetro e sim um celular um pouco velho já e quase sempre sem crédito; nas orelhas não haviam grandes brincos de pérola apenas dois fios brancos dos fones do seu iPod que tocava algumas canções dos Beatles, ainda se podia ouvir os versos de “All My Loving”: “Close your eyes and I'll kiss you/Tomorrow I'll miss you/Remember I'll always be true/And then while I'm away/I'll write home everyday/And I'll send all my loving to you”. Na cabeça não havia nenhuma coroa, mas um cabelo amarrado num rabo-de-cavalo feito as pressas com pequeno elástico. Ela não usava uma grama se quer de qualquer tipo de maquiagem; seus lábios só mostravam o cabo do pirulito, de morango por que ela adorava; a pele era clara e sem nenhuma marca do passado. Seus olhos eram vivos, castanho-escuros e fortes; percorreram o salão observando cada rosto, todos perplexos, até que se detiveram sobre o rosto do príncipe e sorriram. Ela seguiu em direção ao moço real que parecia cada vez mais chocado, passando pela mesa observou todas as guloseimas e as desejou. Não curvou-se ou esperou qualquer reação apenas olhou sorrindo para o príncipe e disse seu nome e estendeu a mão, pois como dizia sempre sua mãe fez dela uma menina bem educada.

Os bispos queriam rezar para que Deus não os castigasse por aquele sacrilégio; as carpideiras já se colocaram a chorar (o que elas estavam fazendo ali?); as damas desmaiaram e as donzelas ficaram indignadas em terem perdido o príncipe para aquelazinha. Os soldados riam disfarçadamente da má sorte do pobre príncipe e alguns homens a acharam de certo modo até muito atraente. O que ninguém imaginava era o impacto que aquele sorriso causou dentro da alma do príncipe.

Sentaram-se para o jantar, o que deixou a todos um pouco irritados ao ver que o príncipe levava em frente aquela história toda. Não era possível escutar o conteúdo da conversa, mas a princesa pareceu bem tranqüila o tempo todo, diferente do príncipe que começou há comer um pouco tenso. Ela não seu fez de rogada em nenhum momento conversa, dava risada e gesticulava bastante. O celular tocou duas vezes, mas ela preferiu não atender porque o papo estava muito bom.

Tendo os dois terminado, ela cochichou algo no ouvido do príncipe, que a essa altura já estava totalmente entregue aos encantos da moça, e os dois saíram para o jardim. Correram juntos, deram as mãos em alguns momentos; ela chorou uma ou duas vezes (pois ele tinha dores e sempre dói um pouco quando nos abrimos com alguém); fez muitas perguntas e percebeu que em alguns momentos foi tagarela além da conta. Teve vergonha e ficou sem palavras quando ele pegou a lira e cantou e depois recitou alguns versos apaixonados a ela. Eles deram o primeiro beijo, ambos ficaram sem jeito (a gente sempre fica um pouco sem jeito no primeiro beijo). Depois sentaram-se para escrever.

Quando voltaram o príncipe já estava sem manto e a coroa estava sobre a cabeça dela, os dois riam bastante. Com uma mão ele segurava mão da amada e na outra trazia um pergaminho, que foi entregue ao Arauto que o leu para todos escutarem:

Ode do Amor a Simplicidade

“Não tem sapatos bem polidos e nem um cetro dourado na mão
Não traz consigo tesouros ou o poder sobre outros reinos
Fez pouco caso do protocolo e só faltou com a educação
Trazia os pés quase descalços como uma camponesa de poucos feitos

Suas vestes são pouco nobres e seu passar é quase indigno
Canta canções estranhas e chora, parece bastante sentimental
Não carrega nobreza e sua coroa é um pedaço de elástico fino
Seria uma desfiguração nos padrões reais do sistema feudal

Mas quem disse que eu ligo para isso tudo? Para essas convenções?
Quem pode impor ao Amor qualquer tipo de regra ou modo de ser?
Aprendi que o único caminho verdadeiro é o das emoções
E que maior bem do que a paixão reino nenhum pode ter

Ela traz em si um sorriso belo que poucas sabem carregar
Tem mãos delicadas e um jeito de olhar que nos desarma
Tem uma risada que enche de alegria o ar
E abraça nos entregando de volta toda a calma

É o desdém que tem com o mundo que me mostra o que ela quer
É o modo como ela sabe viver a eternidade de cada minuto que me encanta
É o espelho pequeno que me diz: “assim como você é”
É o desejo de ver o mar e sobre as ondas convidá-la para uma dança.

Ela senta no chão, abraça apertado, canta bonito e ouve poesia
Bagunça minha vida, tira meu sono e enche meu papel de canção
Ela come devagar, caminha sem pressa e faz pão caseiro (como minha vó fazia)
É franca em palavras, delicada em ações e forte em sua decisão

Ela é simples, como simples é o amor
Ela é simples, e descobriu que seu olhar, em mim, torna-a fatal
Ela é simples, e carrega isso consigo aonde for
Ela é simples, tão simples porque é real.”


Quando o Arauto enrolou o pergaminho seus olhos estavam marejados. Ao observar toda a corte, damas, donzelas, soldados e bispos, todos estavam a chorar (de alegria). As carpideiras choravam de graça (talvez por isso estivessem ali). Todos sorriam e aplaudiam fervorosamente. A princesa sorria olhando seu amado; o príncipe sorria olhando sua amada. E os dois de mãos dadas e sentados no meio fio da calçada descobriram como escrever, um novo conto de fadas. Onde não há torres inexpugnáveis, dragões ferozes ou feitiços e maldições. Existe apenas dois desejando a cada dia, ser um.