sábado, 28 de fevereiro de 2015

Cigana

Te veste mulher e dança, gira sem parar
Enfeita o rosto com um sorriso e o peito com alegria
Brilha os olhos num pôr do sol 
Que banha a lagoa de nossas vidas

Roda seu vestido de flores e encanta o mundo
Azuis como o céu de primavera
Aplaude a música em tercina
E deixa seu canto encher o dia

Balança tua pulseira pra nos jogar nos sonhos
Deixa seus brincos brincarem como crianças
E de pés descalços caminhe sobre a terra

Se um dia ainda tiver que chorar
Que as lágrimas sejam todas de alegria
Para regar os arbustos que enfeitam nosso caminho.


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Que Queres de Mim, Pequeno Poeta?

Olhei para o Sol, gordo e laranja em sua caminhada para Oeste.
Tomei coragem e disse:
- Sol, ó Sol, tu podes me ajudar?
Ela interrompeu seu passo, com sua voz imponente virou-se e indagou:
- Que queres de mim, pequeno poeta?
- É verdade, que todos os dias tu caminhas para Oeste para seu repouso.
- A Oeste, sempre a Oeste até pelo leste renascer.
- Então, quando voltares amanhã, podes me trazer algo?
- Diga, que queres de mim, pequeno poeta?
- Há no oeste uma menina linda: pele branca salpicada de efélides; cabelos cor d'ouro como você ao meio-dia. E tem os olhos. Ah que lindos olhos, azuis e profundos como o oceano.
- E queres que eu a traga?
- Se assim puderes.
- Eu sou senhor dos dias, mestre das estações. Eu governo os planetas e suas rotas, mas não posso reinar sobre a vontade de sua menina.
Ao ouvir aquilo, confesso que me entristeci. E ele prosseguiu:
- Se quiseres digo à ela que sonhas, que esperas e que desejas. Digo até que escreves sobre ela, mas quanto a voltar só ela pode decidir.
E prosseguiu com sua jornada: "a Oeste, a Oeste até no leste renascer." Calei-me e deixei que a noite caísse sobre mim. Foi quando uma tênue luz prata me tocou. Virei-me para o céu e lá estava ela: gigantesca, pura e branca. Era a Lua.
Virei-me com pressa e gritei:
- Lua, ó Lua!
Com sua voz suave e doce ela disse:
- Que queres de mim pequeno poeta?

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A Casa

As janelas são grandes, elas são amplas na verdade,
Castanho-escuras como a imbunha virgem
A luz entra sem problema, espalhando-se por todo canto
Mas nada passa. Tudo continua fechado.

Há muito espaço aqui, para estantes, sofás e poltronas.
Cabem mesas, cadeiras e armários. toda sorte de móveis
Tudo, em cada detalhe, é decorado, bonito e harmonioso
Mas não há nada aqui, nem ninguém

As portas são duas grandes folhas de madeira maciça 
Maçanetas de bronze adornam a estrutura, mas não se movem.
Você pode bater, chamar, querer, conversar
Ela não se abre. Ela não quer abrir.

De que vale tanta beleza para ninguém?
Tanto espaço, tanta pompa e nem uma voz para se ouvir.
Talvez as chaves estejam embaixo do tapete, para quem procurar
Ou próximo a um copo de cerveja, numa mesa de bar.