terça-feira, 16 de agosto de 2011

Pai

“Somos a resposta exata do que a gente perguntou; entregues num abraço que sufoca o próprio amor. Cada um de nós é o resultado da união de duas mãos numa mesma oração. Coisas do coração.” — Raul Seixas


Meu velho pai que todos os dias aproveitava o sol no mesmo canto do sofá. O “livro da capa preta” era sua companhia matinal. Uma caneca sobre a mesa com um café fumegante, com uma fumaça que descrevia e escrevia versos enquanto subia para o céu. Seus olhos confusos nunca me disseram se ele havia nascido para enfrentar o mar ou se era apenas um jovem faroleiro, que a ponta pro mar escuro um feixe de luz.
Meu velho pai que com força e graça todos os dias mata mais um leão. Que sabe muito bem que esse “tempo fugido” vai nos sugando e quando menos esperarmos já seremos os mesmos de sempre. Uma arrogância que transborda amor que banha a muitos mesmo que num anonimato disfarçado, por que amor é bem mais do que um sorriso de bom dia. E todas as vezes que colocas seus olhos sobre mim, sei que em segredo seus braços me protegem.
Meu velho pai que era duro como uma rocha e que só uma única vez verteu lágrimas sobre um deserto chamado morte. Uma rocha tão dura que vencia todas as batalhas e que trazia os espólios enrolados em papel de pão. Amava-me de um jeito tão diferente que eu não conseguia entender; e se um dia eu sonhei que era invisível, e hoje sou, sei que seus olhos sempre puderam me ver.
Meu velho pai... Quanto amor, que não vê preço maior na minha vida. E no dia que as mãos gélidas tocavam meus lábios e me levavam pra longe, ele, como um filho, me privou do dever de partir. E quando ando perdido em ruas tão claras quanto o dia, ele me abraça e me deixa respirar seu perfume.
E eu sei que pareço distante, como se meus olhos já não desejassem conhecer os seus; mas, meu velho pai, se escrevo essas palavras banhadas pelas fontes que nascem dos meus olhos, é por que te amo de todo meu coração.

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