sábado, 4 de agosto de 2012

Efélides que Choram


Por fora, e de longe, ela é durona, bocuda daquelas bem malvadas. Suas conversas eram basicamente sobre suas opiniões e o quão forte elas eram. Isso era demais para uma menina vinda do interior do interior. Bebia e dançava como se a noite fosse dela; lembro bem da cena que marcou toda essa força que ela tem: jaqueta de couro tão negro quando a noite, uma garrafa de vinho a tiracolo e um andar provocante. Sua maquiagem fazia com que suas efélides fossem joias cravadas em seu rosto. Naquele momento aprendi que efélides podem seduzir.


Passou-se o tempo e como uma borboleta que rompe a crisálida para poder nascer, quebrou-se para que eu a pudesse conhecer. Vi que ela tinha o mesmo poder de amar que toda mulher, por debaixo do grande casaco de couro batia um coração tão apaixonado quanto
um coração pode ser. Esse coração, vestido de caipira, certa vez perdeu uma festa toda numa discussão a cerca de uma certa paixão. Cineminha juntos, sair correndo numa briga, carinha de apaixonada. A crisálida rompida me mostrou que efélides podem amar.


Mas veio à vida e fez o que ela faz de melhor, jogou a realidade com tanta força que doeu. A morte, a dor, a saudade, à distância tudo ao mesmo tempo faz a gente sentir uma dor muito forte. Não importa quão bela e quão forte seja a borboleta, suas asas sempre serão frágeis. Nossas defesas são tão fracas quando os ataques vêm de dentro, às vezes as espadas desembainhadas apontam para nosso próprio peito. Sua doçura ácida me conquista a cada dia, mesmo na turbulência leve que nossa vida é. Lembre-se: a crisálida se quebra para que a borboleta possa voar e por mais belas que seja... As efélides podem chorar.

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