segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Mais Um João e Maria

Tempo, ele é uma verdade absoluta e isso nem o mais cético pode negar, os cabelos dele vão ficar brancos. E foi assim com João e Maria (esses nomes são genéricos por que representam milhares de pessoas no mundo).

Ele já não era mais aquele bom moço do ABC com o corpo queimado do trabalho ao sol e as pernas fortes do futebol; sua barriga já era ligeiramente grande e flácida; suas pernas perderam muito da força que tinham (a vida no funcionalismo publico faz isso); os cabelos já estavam ficando brancos, mas só aqueles que ainda não haviam caído. As mulheres sempre envelhecem com mais dignidade que os homens, mas mesmo elas não são imunes ao tempo. A menina de coxas firmes e bumbum arrebitado deu lugar a uma mulher de meia idade com braços flácidos, seios já não tão firmes e “aquele” calorão.

Da união de mais de trinta anos nasceram duas filhas lindas: Renata e Luiza. Eram meninas corajosas, dinâmicas que só se assustavam com uma coisa: depois de tanto tempo os pais ainda pareciam dois adolescente inconseqüentes.

Certo dia Renata chegou da faculdade e encontrou os dois abraçadinhos no sofá, com uma barra de chocolate assistindo “P.S.: I Love You”. A mãe estava com o olho cheio de água e o pai a consolava com um cafuné. Renata ria, mas já estava acostumada, o que ela não aceitou foi que as duas da madrugada os dois estavam no sofá em plena pegação, ela teve que dar uma de mãe chata: “Porque você não vão fazer isso no quarto?” Os dois saltaram sapecas e correram para o quarto.

Luiza viveu uma situação um pouco mais inusitada. Cansada dos estudos para o vestibular resolveu relaxar e comer alguma coisa, saiu do seu quarto e teve uma visão que nunca iria esquecer: a mãe nua enrolada num lençol procurando alguma coisa dentro da geladeira.

- Mãe! Que isso?

A mãe só exclamou um belo “achei!” e voltou pro quarto. Ao passar pela filha, como se só a tivesse visto naquele momento, sorriu e disse: “oi filha”. Luiza estava com uma total cara de paisagem.

Tardes no cinema e no parque, noite na balada e no motel; jantares surpresa no meio da semana (sem nenhuma data em especial). Se você perguntasse o porquê disso tudo João diria que é por que só ela sabia cutucá-lo daquele jeito que fazia cócega; só ela cantava com aquela voz tão aconchegante que deixava ele horas pensando naquele timbre. Maria iria falar que era o jeito com que ele conhecia cada centímetro do corpo dela e cada desejo que ela tinha, sem bajular; ele recitava Vinicius ao pé do ouvido e no instante seguinte a possuía com toda sua virilidade; sabia tratá-la com educação, romantismo e força. Ele era leve, como se o mundo fosse eterno.

Como eles fizeram tudo isso resistir? Sabendo que aquela briga boba por causa do cinto era só uma briga boba, prima-irmã de tantas outras brigas. Que ela briga séria sobre sentimentos e escolhas era só um passo para se amarem ainda mais. Não sei o nome de vocês hoje, mas se vocês desejarem de coração disposto e sincero vocês podem ser mais um João e Maria.

Um comentário: