sábado, 8 de janeiro de 2011

Mr. Jones e Seus Inconfundíveis Óculos Espelhados

Essa é uma história verdadeira. Aconteceu com um amigo de um amigo meu; é a história de Mr. Jones e seus inconfundíveis óculos espelhados. Quando o Mustang Shelby GT500 despontava no começo da rua, toda molecada corria pra ver. O carro negro entrecortado por duas faixas brancas tinha uma imponência sem fim. Todos sabiam quem desceria do carro quando ele parava na garagem do número 183, pois somente um homem era capaz de pilotar uma maquina daquelas: Mr. Jones!

Ele era uma figura emblemática. Parecia que tinha saído de algum filmes dos anos 60. Jaqueta de curo negro; cabelos perfeitamente penteados e nitidamente banhados de gel; calças jeans tão surradas quanto algum adversário de Mohamed Ali; sapatos escuros muito bem engraxados e eles: os inconfundíveis óculos espalhados. Reza a lenda que ele os teria recebido do próprio General Douglas MacArthur, mas isso é só uma fofoca. Por baixo da jaqueta a mesma regata branca e sobre o peito a corrente que segurava um pingente na forma de “E”. Dizem que era de Eleanor, sua falecida mãe; outros diziam que era de Ester, seu primeiro amor que nunca esqueceu e a história mais absurda era de que o tão misterioso “E” era de Emily, uma filha ilegítima que ele teria num estado do sul. A única coisa que se podia ter certeza era que representava uma mulher, porque ele tinha um dom infinito com elas. Não importava quem, quando e onde ele sempre conseguia conquistar.

Píer 23, dez horas da noite. B. Joe marcava suas corridas no porto porque era onde podia ter a maior discrição e os melhores percursos. Quatro pilotos, dez mil em dinheiro e a vaga de piloto vitalício de B. Joe. Lá estava o GT500 e encostado na traseira Mr. Jones e seus inconfundíveis óculos espelhados (usava-os mesmo a noite e não diminuíam em nada suas habilidades). O trajeto era esse: do píer 23 até o píer um, do outro lado do porto, fazendo todo o caminho pela sinuosa parte sul do porto até o píer oito, virando abruptamente para a esquerda até o final. Essa era conhecida como a curva da decisão; quem a cruzava primeiro não perdia a corrida, mais superstição do que lógica.

O ronco dos motores e o cheiro de borracha queimada infestaram o lugar; os carros partiram como flechas deixando para trás fumaça e marcas de pneu no chão. Logo se percebeu que a corrida ficaria entre Mr. Jones e o piloto do carro verde (um camaro qualquer). Os dois pilotavam com dois gladiadores romanos; velocidade, força e destreza. A agressividade dos dois estava nítida com as caixas e barris que eram ignorados quando eles passavam voando baixo.

O trecho antes da curva do píer oito era uma reta perfeita; os dois levaram os carros à máxima potência. Mr. Jones tinha uma ligeira vantagem, centímetros, mas tinha certeza que sua entrada na curva da decisão seria triunfal! Mas o que ele não esperava era o caminhão tanque que estava saindo do píer oito bem na hora. Foram os três segundos mais longos que ele já viveu. Lembrou da primeira vez que dirigiu um carro, o barulho do motor, a sensação ao tocar o couro do volante, lembrou-se do seu primeiro racha e sua primeira vitória; lembrou do pingente em forma de “E” que balançava no seu peito enquanto ele puxava o freio de mão para entrar na curva. De longe só se pode ouvir a explosão e ver a coluna de fumaça que se ergueu muitos metros, como uma mão negra de morte que quer tocar o céu. Os dois corredores mais lentos estavam a salvo; um jogou o carro pra dentro do píer nove e o outro pra dentro de um monte de lixo. Os mais rápidos não se viam.

Fogo, muito fogo, a certeza que ninguém poderia sair vivo dali. Depois que as chamas cessaram não havia duvidas: o camaro acertou em cheio a lateral do caminhão; o carro antes verde agora era apenas um punhado de ferro banho de cinza e o piloto... O que ninguém quis crer foi quando viram o Mustang Shelby GT500 capotado e ainda em chamas. Os pneus já derretidos, a pintura totalmente corroída pelas chamas e uma jaqueta de couro grudada ao acento do carona. Num monte de caixas de papelão, fumando e olhando o céu viram o que parecia impossível: Mr. Jones e seus inconfundíveis óculos espelhados.

4 comentários:

  1. Simplesmente surpreendente!!!Quero um óculos desse pra mim,mas com 12,5 de miopia...será que tem????
    Bjo

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  2. Me Amarei no texto,Parabéns óculos espelhados

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  3. ...e até hoje quem se lembra diz q não foi o caminhão, nem a curva faltal e nem a explosão...

    #vcehfoda!
    quero sempre te ler...

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