sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Toquei Um Blues Pra Você Dançar

Sei que a noite já esta bem escura, mas eu puxei a guitarra pra perto de mim e acendi um cigarro. Não, eu não me importo de tocar e fumar; não faz diferença ter nicotina entre os dedos se aquele acorde dissonante que me faz lembrar você sair perfeito. Deixei as partituras no carro e não me lembrei de nenhuma peça do Bach... Bah! Deve ser o álcool.

Quando olho seu corpo deitado no chão, me lembrei daquela noite que saímos correndo no píer e você quebrou nossa ultima garrafa de tequila, o que era para ser trágico tornou-se cômico quando você a olhou toda espatifada no chão e disse: “tadinha!” Rimos o suficiente para ter que voltar pra casa de taxi. Vendo o seu collant preto, tão justo e reto no seu corpo, lembro do primeiro dia que te peguei na dança e vi você voar como um pássaro livre. Naquele momento eu descobri o que realmente te fazia feliz.

Então eu combino uma escala com a outra, encaixo um acorde no outro e percebo um leve sorriso nascer no canto dos seus lábios enquanto você ainda finge que dorme. O ritmo vai crescendo e eu sei bem que seu corpo fala bem mais alto que você. Vendo você sentada e olhando pra mim, lembro do dia que eu quase morri de gripe (sim são meus dramas) e nem conseguia tocar; você pegou o violão e tocou a única música que sabia inteira. Naquela hora me lembrei de uma frase do Vinicius de Moraes: “amar, porque não existe nada melhor para saúde do que um amor correspondido.”

Você é dança meu amor; o resto? É puro apêndice. Seus giros, seus saltos, a alegria do seu corpo ao entregar-se para dança como uma oferta divina. Suas pernas como o vento levam e elevam seu corpo a um nível incrivelmente profundo; seus braços como as asas de um falcão me revelam que você sabe voar, com maestria. Suas formas, seus contornos revelam graça e precisão.

Enquanto eu busquei em escalas e acordes; madeira, metal e cabos a expressão dos meus sentimentos, você esculpiu o seu próprio corpo para que fosse seu instrumento. Suas mãos e pés; seu pescoço e sua cintura; todos os seus membros são como uma orquestra totalmente dedicada ao seu grande maestro:o coração.

Agora vem você com seu corpo esguio e delicado me oferecendo uma taça cheia do meu vinho predileto. E eu me entrego a taça; me entrego em seus braços e sou rendido pelo nosso amor.

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