terça-feira, 2 de novembro de 2010

Um Novo Conto de Fadas

O príncipe estava feliz finalmente chegara o dia de conhecer a sua tão amada princesa. Ele escolheu o melhor manto, um bem escarlate com detalhes em branco. Mandou polir com maestria o cetro e a coroa. O anel real em sua mão parecia ainda maior e brilhante. Sentou-se quase soberano sobre seu trono no salão real; toda a corte o observava, viam aquele que em breve se tornaria o rei, o que não sabiam é que por dentro ele ainda era um menino que sonhara se apaixonar.

O Salão estava em ansiedade. Quem seria a nova princesa? De que reino viria? Era alta? Magra? Simpática? Teria irmãos ou irmãs? O ritual era simples: a princesa entraria apresentando-se ao pretendente e depois os dois iriam ceiar diante da corte. A mesa do casal estava repleta de iguarias que nem os mais abastados do reino conheciam: carne de caça do norte do reino; romãs colhidas por virgens ao sul (na fronteira com os reinos negros); taças de ouro trazidas do oriente, tão bem trabalhadas que pareciam ter vida própria; a mesas e as cadeiras eram tão perfeitas como se já tivessem nascido daquele jeito.

Subitamente as portas do salão se abriram e as trombetas soaram anunciando a chegada da princesa. Primeiro seu Arauto entrou; ele era tão belo quanto o próprio príncipe e vestia vestes nobres que fizeram todos especularem sobre quão grande seria a beleza da princesa, visto que seu servo era tão apresentável. O Arauto aproximou-se do trono e curvou-se, estendeu uma pequena caixa ao príncipe, era um humilde presente: um pequeno espelho que trazia gravado em sua moldura, “assim como você é”. Levantou-se e, indicando a porta, anunciou a entrada da princesa.

A entrada dela deixou a todos chocados. O Arauto olhou em direção a ela e sorriu; a corte toda expeliu um “oh!”; o príncipe endireitou-se na cadeira e esfregou os olhos para ter certeza de que o que via era real. O protocolo dizia que a princesa entraria com as vestes oficiais do reino, o cetro e a coroa sobre a cabeça e o cetro em mãos. Deveria vestir cores claras e calçar sapados de salto claros também. Ajoelhar-se-ia diante do príncipe, diria seu nome e quando ele estendesse a mão (se a aceitasse) ela se levantaria e sentaria ao lado do amado, mas as coisas foram um pouco diferentes.

No lugar de sapatos de salto com cores claras ela trazia nos pés um par de havaianas florais, branco com rosa, suas preferidas. Suas unhas estavam pintadas de renda à francesinha. O longo vestido deu lugar a uma calça jeans bem surrada (com a barra um pouco gasta) e um moletom azul-marinho da GAP que era um pouco largo para ela, mas que a fazia sentir-se totalmente à vontade, o capuz atirado para trás com seus cordões jogados para frente. Não mão não trazia um cetro e sim um celular um pouco velho já e quase sempre sem crédito; nas orelhas não haviam grandes brincos de pérola apenas dois fios brancos dos fones do seu iPod que tocava algumas canções dos Beatles, ainda se podia ouvir os versos de “All My Loving”: “Close your eyes and I'll kiss you/Tomorrow I'll miss you/Remember I'll always be true/And then while I'm away/I'll write home everyday/And I'll send all my loving to you”. Na cabeça não havia nenhuma coroa, mas um cabelo amarrado num rabo-de-cavalo feito as pressas com pequeno elástico. Ela não usava uma grama se quer de qualquer tipo de maquiagem; seus lábios só mostravam o cabo do pirulito, de morango por que ela adorava; a pele era clara e sem nenhuma marca do passado. Seus olhos eram vivos, castanho-escuros e fortes; percorreram o salão observando cada rosto, todos perplexos, até que se detiveram sobre o rosto do príncipe e sorriram. Ela seguiu em direção ao moço real que parecia cada vez mais chocado, passando pela mesa observou todas as guloseimas e as desejou. Não curvou-se ou esperou qualquer reação apenas olhou sorrindo para o príncipe e disse seu nome e estendeu a mão, pois como dizia sempre sua mãe fez dela uma menina bem educada.

Os bispos queriam rezar para que Deus não os castigasse por aquele sacrilégio; as carpideiras já se colocaram a chorar (o que elas estavam fazendo ali?); as damas desmaiaram e as donzelas ficaram indignadas em terem perdido o príncipe para aquelazinha. Os soldados riam disfarçadamente da má sorte do pobre príncipe e alguns homens a acharam de certo modo até muito atraente. O que ninguém imaginava era o impacto que aquele sorriso causou dentro da alma do príncipe.

Sentaram-se para o jantar, o que deixou a todos um pouco irritados ao ver que o príncipe levava em frente aquela história toda. Não era possível escutar o conteúdo da conversa, mas a princesa pareceu bem tranqüila o tempo todo, diferente do príncipe que começou há comer um pouco tenso. Ela não seu fez de rogada em nenhum momento conversa, dava risada e gesticulava bastante. O celular tocou duas vezes, mas ela preferiu não atender porque o papo estava muito bom.

Tendo os dois terminado, ela cochichou algo no ouvido do príncipe, que a essa altura já estava totalmente entregue aos encantos da moça, e os dois saíram para o jardim. Correram juntos, deram as mãos em alguns momentos; ela chorou uma ou duas vezes (pois ele tinha dores e sempre dói um pouco quando nos abrimos com alguém); fez muitas perguntas e percebeu que em alguns momentos foi tagarela além da conta. Teve vergonha e ficou sem palavras quando ele pegou a lira e cantou e depois recitou alguns versos apaixonados a ela. Eles deram o primeiro beijo, ambos ficaram sem jeito (a gente sempre fica um pouco sem jeito no primeiro beijo). Depois sentaram-se para escrever.

Quando voltaram o príncipe já estava sem manto e a coroa estava sobre a cabeça dela, os dois riam bastante. Com uma mão ele segurava mão da amada e na outra trazia um pergaminho, que foi entregue ao Arauto que o leu para todos escutarem:

Ode do Amor a Simplicidade

“Não tem sapatos bem polidos e nem um cetro dourado na mão
Não traz consigo tesouros ou o poder sobre outros reinos
Fez pouco caso do protocolo e só faltou com a educação
Trazia os pés quase descalços como uma camponesa de poucos feitos

Suas vestes são pouco nobres e seu passar é quase indigno
Canta canções estranhas e chora, parece bastante sentimental
Não carrega nobreza e sua coroa é um pedaço de elástico fino
Seria uma desfiguração nos padrões reais do sistema feudal

Mas quem disse que eu ligo para isso tudo? Para essas convenções?
Quem pode impor ao Amor qualquer tipo de regra ou modo de ser?
Aprendi que o único caminho verdadeiro é o das emoções
E que maior bem do que a paixão reino nenhum pode ter

Ela traz em si um sorriso belo que poucas sabem carregar
Tem mãos delicadas e um jeito de olhar que nos desarma
Tem uma risada que enche de alegria o ar
E abraça nos entregando de volta toda a calma

É o desdém que tem com o mundo que me mostra o que ela quer
É o modo como ela sabe viver a eternidade de cada minuto que me encanta
É o espelho pequeno que me diz: “assim como você é”
É o desejo de ver o mar e sobre as ondas convidá-la para uma dança.

Ela senta no chão, abraça apertado, canta bonito e ouve poesia
Bagunça minha vida, tira meu sono e enche meu papel de canção
Ela come devagar, caminha sem pressa e faz pão caseiro (como minha vó fazia)
É franca em palavras, delicada em ações e forte em sua decisão

Ela é simples, como simples é o amor
Ela é simples, e descobriu que seu olhar, em mim, torna-a fatal
Ela é simples, e carrega isso consigo aonde for
Ela é simples, tão simples porque é real.”


Quando o Arauto enrolou o pergaminho seus olhos estavam marejados. Ao observar toda a corte, damas, donzelas, soldados e bispos, todos estavam a chorar (de alegria). As carpideiras choravam de graça (talvez por isso estivessem ali). Todos sorriam e aplaudiam fervorosamente. A princesa sorria olhando seu amado; o príncipe sorria olhando sua amada. E os dois de mãos dadas e sentados no meio fio da calçada descobriram como escrever, um novo conto de fadas. Onde não há torres inexpugnáveis, dragões ferozes ou feitiços e maldições. Existe apenas dois desejando a cada dia, ser um.

2 comentários:

  1. é,isso é muito interessante para as meninas que ainda acreditam em conto de fadas... hehehe Adoreii. Beijos

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  2. óinn vini so podia ser koisa d vini mesmo bm lindooo

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