sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Nina

Cinema, a sétima arte tão bela quanto todas as outras. Essa arte que nos revelou tantos homens e mulheres talentosos; fez-nos ver que “o vento levou amores possíveis da mão que balança o berço, a mão do poderoso chefão que mora numa casa blanca”. Cinema, essa sala mágica de tela grande e som poderoso, alguns vão até lá para namorar, outros para dormir, uns para assistir, mas eu fui para observar. Não tinha certeza se era anjo, fada, menina ou uma mistura tão divina quanto tudo isso pode ser.

Comer é um dos maiores prazeres da vida, alimenta o corpo e dá força; rezar é a mesma coisa, mas faz isso com o espírito o deixa forte e pronto para encarar qualquer parada. Amar... Não é preciso dizer muito, é isso que ilumina nossas vidas que faz dos dias cenas coloridas, nos faz desejar um sorriso, um olhar. Eu tinha tudo isso, bem na cadeira oito ao meu lado.

A luz tênue da sala releva seus contornos. Sei bem que ela não estava muito a vontade, seus braços cruzados só se mexiam quando o nervosismo ruía as unhas ou para arrumar, o já tão arrumado, lenço de onça (que eu não sabia, mas que viria a conhecê-lo muito bem). Seu rosto revelou-se fascinante: o nariz levemente empinado, os lábios rosados, a pele macia e aqueles olhos que pareciam iluminar tudo o mundo, olhos que fingiam não me ver olhar. Ela ficava sem jeito, jogava o cabelo e falava de outras coisas para me distrair; mas não tinha como eu precisava decorar aquela imagem. Como era bela quando sorria envergonhada e olhava para mim. A vaidosa passava creme nas mãos, e eu sendo oportunista pedi nas minhas também. Como foi bom sentir suas mãos tocarem as minhas, eram delicadas e firmes, queria que elas estivessem aqui agora. Restou o cheiro do seu creme em minhas mãos, que se mistura ao meu teclado, ao meu violão, ao meu jeito de ser. Esse cheiro se misturou com meu olhar, com meu modo de ver você.

Num momento percebi que seus olhos estavam marejados. Não eram lágrimas de alegria e isso me cortava levemente o coração. Confesso que naquele momento vi se manifestar uma beleza tênue, melancólica e encantadora. Com certo bom humor tentei conversar.

“Porque você quer chorar?”

“Não é nada.”

“Lembra aquela vez que te disse que um dia todos nós seriamos felizes, Independente do foi, do que é, ou do que será? Nós seremos todos felizes.”

“É, mas às vezes demora.”

“Talvez você já esteja feliz.”

A cena do filme era pra ser linda: um barco, uma paixão e uma ilha só para os dois, mas a mocinha temeu. Nossa cena seria ainda mais bela, seria quase uma citação: “eu, você, nós dois aqui nesse banquinho a beira mar.” Queria ver aquele mesmo rosto sendo iluminado pelo sol que nasce, acompanhado de acordes dissonantes e melodias suaves. Tive que me denunciar.

“Eu não tenho um barco, mas poderíamos passar uns momentos juntos.”

Ela sorriu, de novo, e isso foi me encantando cada vez mais.

Faz dezoito dias que escrevi esse texto, e acredito que descobri o que é apostar. Voltei pra casa leve, com essas palavras nascendo em mim como se eu fosse fonte. Eu sorria para o nada pensando em você. Quem sabe enquanto escrevo você esteja pensando ou falando de mim (que pretensão), mas e agora? No fim das contas percebo que desejo sua felicidade, que você prossiga vencendo e seja realizada. Se eu fosse músico te fazia uma canção, mas me restou ser um humilde artesão de palavras por isso te escrevi. Fiz de tudo para que não fosse bonito e sim lindo, mas isso quem decide é você. Felicidades.

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