domingo, 12 de setembro de 2010

Acabou.

Ele continuava sobre a cama, esticado como se ela ainda estivesse dentro dele. A imagem que nasceu foi dela deitada depois do almoço quando abandonava a louça e se jogava para tirar um pequeno cochilo. Hoje não teve almoço, nem cochilo, nem carinho e risadas no lavar da louça; as coisas estavam bem difrentes depois que ela foi embora levando tudo, mas esquecendo aquele presente grego sobre a cama.
Um pedaço de pano, com motivos florais, trazia tantas lembranças. Do primeiro encontro a ultima briga. Era o mesmo pano que a cobria no dia que ela saiu correndo na chuva para salvar um cachorrinho que tinha se perdido; quando ela falou que iria no mercado comprar umas cervejas, só por que era aniversário dele, mas na realidade foi buscar os amigos que estavam escondidos na esquina para a primeira surpresa dele, era aquele mesmo pano que marcava a cena.
Sentou-se a beira da cama e começou a dobrá-lo. Só tinha feito isso uma única vez, quando entre rosas e taças de vinho haviam se amado pela primeira vez. Lembrou-se como o tecido revelava o desenho de seu corpo; como as tulipas ganhavam forma com o volume de seus seios ou como a suavidade do tecido denunciava as torres que eram suas pernas. Com mãos melancólicas o guardou numa sacola de papel, mas não tinha muita idéia de qual seria o destino daquele tesouro. Não imagina como poderia vê-lo em outro corpo vivendo outra história, passando outros momentos; invadido por uma onda de displicência tomou um pequeno papel, escreveu e com um grampo prendeu na sacola.
O luto é necessário, sempre, ela o ensinará que se você guardar as lágrimas elas explodem em outro lugar e isso não é saudável, nunca. Foi até o portão e observou a rua que tantas vezes caminharam juntos, o portão que tantas vezes um esperou o outro, esperar... Levou alguns minutos para voltar a si, pendurou a sacola no portão e entrou. Foi criar seu próprio momento de luto: apagou todas as luzes, fechou todas as cortinas (mas como era dia o sol ainda entrava pela janela da cozinha),ligou a tv, o DVD e já sabia qual seria a canção que ele iria escolher.
A voz não era grave, mas trazia a rouquidão que ele sempre amou. Era quase o mesmo tom de quando ela cantou “Chá Verde” para acordá-lo. A canção começou, a meia luz, a cantora em pé, o clarinete e o violão, tudo criava o ambiente ideal para que o fim fosse celebrado. E foi celebrando um fim que a canção começou. “Acabou... Agora tá tudo acabado, seu vestido estampado dei...” Nesse momento como se seus olhos pudessem ver ao longe, leu o papel que estava preso na sacola pendurada no portão: “À quem puder servir.”

6 comentários:

  1. Me arrepiou.
    Percebi no seu texto e na vida que há sempre algo bonito na morte.
    Dancemos.

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  2. Até chorei,mas eu sou suspeita.. hehehe Maravilhoso,querido!

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  3. NOSSA MTO LINDO!!!
    deu um nó na garganta...rs
    mto lindo

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  4. Da hora..
    mas um pouco e eu chorava.. rsrs
    Muito bom

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  5. Vini essa história tem um pouco a ver cmg... hehehe, mais fico muito bom...

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