domingo, 24 de outubro de 2010

Alta Madrugada

Com certeza é a voz mais doce e bela que se pode ouvir. Lembro da primeira vez que a ouvi, foi algo simples, talvez tão simples quanto um “oi”. Mas veio o tempo e fez aquilo que faz de melhor: transformou as coisas mágicas em normais, e as normais em banais, e as banais em obsoletas.

Aquela voz tão viva foi aos poucos desaparecendo no meio de tantos sons. Eram máquinas e carros; gritos de olé, gritos de protesto; sabores novos e velhos desgostos; novas formas sem nenhum conteúdo. “Você viu o acidente?”; “ela não quer falar com você”; “você é meu amor”; “faz biquinho”; “ê tem som de í e ú tem som de ê”. Não sei como e nem onde, mas todos esses sons se misturaram e eu perdia aquela voz.

Então eu corri, passei por tantos lugares pra ver se podia pelo menos encontrar um eco dessa voz de amor, a voz do próprio Amor. Esqueci a diferença entre o dia e a noite e os limites eram tão tênues que... Acredito que ultrapassei todos. E onde estava minha voz? Que melodia ela cantava enquanto eu ria sem ver graça? Estava lá sussurrando pra eu olhar pra trás.

Encontrei essa voz onde menos esperava: numa conversa no sofá; num bate papo no bosque e num sorriso de mulher. Hoje mesmo a ouvi e percebi que há vida quando ouço o amor falar. Chama meu nome e me acalma. Talvez eu venha a me distrair de novo e quem sabe deixar uma ou duas palavras passarem, mas quero que essa voz soe de dentro pra fora. E quando estiver no sofá poderei de entender e respeitar; quando estivermos no bosque saberei te ajudar e ouvir. E quando contemplar o Sorriso, não irei me inquietar, vou descansar e ouvir sua voz dizer que me ama.

Agora eu vou correndo em direção a ela todos os instantes. Com busão cheio ou não, eu posso ouvir; sozinho em casa ou no meio da multidão, eu posso ouvir; em palavras lidas, escritas ou faladas, eu posso ouvir. Eu vou me abraçar com essa voz e guardá-la fundo no peito pra quando o amor vacilar eu ajudá-lo a levantar; quando as duvidas se colocarem (da maneira certa ou não) saberei responder. E é assim: eu vou.

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