domingo, 10 de outubro de 2010

Laila

Dizem alguns sábios que quando menos coisas vocês precisa para ser feliz maior e mais fácil será e virá a sua felicidade. Ela tinha o arco, a cera e a imaginação, do que mais poderia precisar?

Sentou-se na cadeira como se nada mais pudesse existir ao seu redor; colocou o instrumento entre as pernas, curvou levemente a cabeça. Seus cachos misturavam-se levemente com sua mão e com as cordas já afinadas. A luz baixou, a platéia silenciou quando a crina de cavalo devidamente esticada tocou as cordas banhadas a prata, o som era divino. Não houve ouvido ou alma que ficasse alheio aquele som.

Viu-se que o jovem Elliot, estudante do instrumento, observava cada movimento, cada colocação do arco, cada nota, cada movimento. As imagens da possível partitura nasciam na mente dele como um castelo. Senhor Castelmare não pode conter as lágrimas que lhe caiam sobre o rosto. Lembrou-se do dia que caminhou com o sol no rosto, a mão dada, o frio na barriga e o calor no coração, eram lembranças tão boas que aquela melodia trazia. Raquel e Pedro sentiam-se arrepiar, como se cada nota amarrasse o que sentiam um pelo outro.

Nossa musicista desapareceu, não era mais arco, cera e madeira; não era mais osso, tendões e carne; não era mais desejo, pensamento e espírito ela era música. Tornou-se nota, intervalo, acorde; foi feita melodia e ritmo que pulsava no compasso dos corações. Desfez-se diante de todos e passou a fazer parte de todos. Seus cachos eram agora a pauta de toda e qualquer partitura tocada; sua voz se tornou melodia cantada desde as cantigas de rodas, até a mais romântica serenata. Seu coração era agora compasso e ritmo do próprio amor.

Hoje ainda é possível ouvi-la por toda parte. No canto dos pássaros, no riso das crianças, no farfalhar das árvores, no barulho das ondas e na voz de quem ama.

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