quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Olhando pra Dentro de Longe

Ser feliz por uma conquista pessoal é tão nobre quanto à própria conquista. Mas ficar feliz por terceiros é um sentimento nobre e maravilhoso de se sentir. Naquela tarde de domingo não havia outra coisa que se sentir; mesmo depois de ver tanta coisa, contar e ouvir tantas histórias ele encantou-se com uma cena que nunca mais iria esquecer.

Cerveja, risada e um pouco de comida, eram os prazeres da vida, aqui da terra, mas seus olhos pertenciam à outra natureza, eram de um lugar distante, belo e eterno. Por isso esses olhos foram sugados para os dois jovens que num simples sofá criavam uma das obras de arte mais lindas da vida. Ele era assim, como é até hoje, simples e nem de longe medíocre. Fazia dos sentimentos imagens, e das imagens palavras tão belas que fizeram os dedos de pedra virar carne e poesia. Ela era uma flor, das mais raras e belas; era mais, podemos dizer que ela era a personificação da própria primavera em todos os seus tons, cheiros e sabores.

Seus olhos nunca mais foram os mesmos, aquela imagem tornou-se um ritornelo de uma verdade: o Amor é real e possível. O rapaz sentado desajeitadamente no braço do sofá carregava seu bom, velho e negro companheiro de seis cordas. Seus dedos percorriam as cordas já gastas formando uma harmonia que era regada de amor e paixão. Estavam um diante do outro, seus olhares se encontravam e o sol lá fora brilhava mais forte, o céu ficou mais azul. O expectador não ouvia a melodia, e talvez não queira descobri-la, mas podia ouvir que as notas eram murmúrios de amor, confissões de que “eu prometo não viver mais sem você” e juras de “se o mundo passar e meu corpo for feito em mil pedaços, meu amor por ti estará guardado numa caixa”. Ficou sabido naquele momento que qualquer pessoa em qualquer tempo que pudesse ver, ou pelo menos saber dessa cena, iria acreditar no amor, pois um amor de verdade inspira outrem.

Nosso querido expectador abaixou a cabeça e guardou a cena para sempre consigo. Voltou de súbito a crer num amor bonito, como dos filmes e tão real e vivo quanto o das ruas. Quanto tempo passou sem viver seus próprios amores? Já não sabia, mas sabia que como ele sabia que podia dar certo iria à busca do seu. Graças a dois, um creu. Algum outro passante meio distraído bateu em seu ombro e perguntou.


“Olha que cena linda. Será que o amor ainda existe?”

A resposta foi simples, como simples é o amor.

“Ainda e sempre.”

Um comentário:

  1. Esse anjo ainda vai fazer essa flor amanhecer cheia de lágrimas...como o orvalho de cada manhã primaveril.

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